Conhece Beauty Simango: Uma mulher apaixonada por tecnologia, excelência e impacto social.
Com 14 anos de experiência na Vodacom Moçambique, Beauty Simango é hoje uma referência em liderança tecnológica, transformação digital e empoderamento feminino. Iniciou a sua jornada como estagiária em 2010 no departamento de IT & Billing e, com foco, paixão e dedicação, cresceu até se tornar gestora da unidade de facilitação de serviços de faturação.
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Como vês o papel da mulher na liderança e qual conselho darias para outras mulheres que desejam assumir posições de liderança?
Vejo o papel da mulher na liderança como uma força equilibrada e transformadora. A mulher tem uma forma de liderar que é naturalmente mais abrangente: ela pensa estrategicamente, age com empatia e toma decisões com foco no todo — no negócio, nas pessoas e nos processos.
A mulher tem a capacidade de sentir e decidir ao mesmo tempo, com clareza e equilíbrio. Ela pensa múltiplas dimensões de forma simultânea: organiza, escuta, planeia e executa com sensibilidade e força. Deus já colocou na mulher a essência do cuidado e da sabedoria. Por isso, ela lidera com o coração, mas também com estrutura, visão e firmeza.
A mulher valoriza pessoas — que são, muitas vezes, o activo mais precioso de qualquer organização. Essa essência natural do cuidado, da escuta e da protecção torna a mulher uma líder nata. Ela transforma ambientes, constrói relações duradouras e desenvolve outras vidas com a sua liderança.
Os meus conselhos para outras mulheres são:
Definam a vossa identidade - A liderança começa por saber quem somos. Quais são os nossos valores inegociáveis? Qual é o nosso propósito, a nossa promessa e os nossos sonhos;
Acreditem no vosso potencial e avancem - mesmo quando o medo tentar paralisar. Aliem-se a boas redes de suporte para mentoria.
Não esperem por condições ideais - Comecem, estudem, envolvam-se em redes de crescimento, procurem mentoria e aceitem desafios. O vosso lugar é também na liderança. A vossa voz é necessária
Partilha um momento que definiu a tua jornada profissional
A minha jornada profissional foi marcada por vários momentos importantes, mas o mais definidor foi, sem dúvida, quando aceitei o desafio de ser Acting Manager da área de Postpaid Billing. Sou uma pessoa naturalmente introvertida e, até então, actuava como gestora da Unidade de Facilitação de Serviços de Facturação — uma função que já dominava, dentro da minha zona de conforto.
Assumir uma área nova, com grande visibilidade e impacto para a organização, foi intimidante. Senti-me insegura. Tive medo. Mas, mesmo assim, aceitei o desafio. E foi aí que muita coisa mudou.
Ultrapassar este medo permitiu-me despertar um novo modelo de liderança — Quiet Leadership, uma combinação de liderança transformacional, servidora e com abordagem de coaching. Essa fase foi determinante para que, mais tarde, eu abraçasse com confiança e determinação a missão de liderar a área de Digitalização e Automação de Processos, onde actualmente promovo a eficiência e inclusão de mais mulheres no mundo da tecnologia.
Qual foi o maior desafio que enfrentaste como mulher na tecnologia e como superaste?
O maior desafio que enfrentei como mulher na tecnologia foi conquistar o meu espaço num ambiente predominantemente masculino — especialmente no início, quando fui promovida para liderar uma equipa técnica composta apenas por homens.
Sou uma pessoa introvertida e de poucas palavras. E por isso, enfrentei o que costumo chamar de “invisibilidade silenciosa” — aquela sensação de que, para ser reconhecida, tinha de fazer sempre um pouco mais e entregar resultados visíveis e consistentes.
Escolhi focar-me em fazer entregas com excelência, indo além do esperado. Preferi sempre mostrar com acções e resultados aquilo que muitas vezes não dizia em palavras. Ao longo do tempo, foi essa consistência que me ajudou a conquistar respeito, confiança e espaço.
Liderança, para mim, não é sobre falar mais alto — é sobre agir com clareza, empatia e propósito.
Uma decisão que tomaste que teve impacto em quem tu és hoje?
Uma das decisões mais importantes da minha vida foi voltar a estudar numa altura que liderava uma equipa que dava suporte ao negócio 24/7. Naquele momento, eu sentia que já não tinha grandes desafios na área e percebi que, para crescer, eu precisava sair da zona de conforto e investir em mim mesma.
Decidi fazer o mestrado em Sistemas de Informação e, através do programa de intercâmbio NORPART (Norwegian Partnership Programme for Global Academic Cooperation), tive a oportunidade de estudar durante um período de 3 meses na Universidade de Oslo, na Noruega. Foi uma fase difícil, com muitas renúncias, especialmente conciliando responsabilidades familiares e profissionais.
Essa experiência transformou-me profundamente. Ganhei uma estrutura mental diferente, mais autoconfiança e uma visão muito mais ampla do que significava liderar com propósito e inovação. Logo após o meu regresso, fui convidada a assumir novos desafios de gestão noutras áreas — incluindo, mais tarde, a liderança da área de Digitalização e Automação de Processos.
Valor ou princípio que te guia e moldou a tua vida?
O valor que mais me guia é a responsabilidade com propósito. Tudo o que faço, faço com intenção, com disciplina e com a consciência de que estou a contribuir para algo maior — para mim, minha equipa, família e, para a sociedade.
Cresci num lar onde os meus pais me ensinaram a importância da disciplina, do respeito e do compromisso com aquilo que nos é confiado. E esses valores foram reforçados por uma formação espiritual que me ensinou a viver com fé e a agir com consciência.
Mas, além desses pilares, no ambiente de trabalho consegui desenvolver outros princípios que também moldaram a pessoa e a profissional que sou hoje:
Coragem silenciosa, porque mesmo sendo introvertida, sempre escolhi enfrentar os desafios que me levavam a crescer.
Serviço com intencionalidade, porque acredito que liderança é, acima de tudo, um acto de servir com visão e com o coração no lugar certo.
Excelência e autenticidade, porque prefiro liderar com acções do que com palavras, e ser fiel à minha essência em qualquer ambiente onde esteja.